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Inovação no mercado de saúde. O que precisamos saber antes de tentar inovar?

O homem sempre precisou inovar e, por muito tempo, isso era uma questão de sobrevivência, literalmente. O que teria sido de nós sem o fogo, a roda, a fala, ferramentas de caça e navegação, entre outras que hoje nos parecem tão básicas, mas que de certa forma influenciaram o curso da história.


Todas essas inovações nos trouxeram até aqui e, graças à soma de todas elas, vivemos um momento único. Nunca se inovou tanto como hoje, novas soluções surgem diariamente e, é bem verdade, muitas também desaparecem na mesma velocidade.


Nas últimas duas décadas, inovamos mais do que em toda a história.


Não por acaso, é o período em que mais há trocas e absorções de novos conhecimentos em diferentes culturas, áreas e setores. Podemos nos perguntar se hoje inovamos mais por termos mais informações ou temos mais informações por que inovamos. O que importa é que tudo está mudando de forma muito rápida e o que, nos primórdios, era uma questão de sobrevivência para o homem, hoje pode ser uma questão de sobrevivência para muitas organizações: inovar.


A inovação chegou ao mercado de saúde


Nesse contexto, é compreensível que inovação seja o assunto do momento em todas as áreas de negócios, inclusive no mercado de saúde. Basta acessar portais de notícias do segmento como Medicina S/A e Saúde Business, por exemplo, para constatar que mais de 70% de suas matérias e artigos estão abordando novos assuntos e nos apresentando termos que até então eram desconhecidos como IoT (Internet das Coisas), Inteligência Artificial, Machine Learning, Deep Learning, Chatbot, Big Data, business intelligence, Healthtechs, Design Thinking, etc.


Essa avalanche de novas informações pode soar assustadora para as organizações que passam a temer ficarem ultrapassadas e se tornarem a nova rede de táxis frente a um Uber.

Essa preocupação é válida e muito justa, é sim muito importante acompanhar os movimentos do mercado para continuar no jogo. Mas, isso não significa que devam, de uma hora para outra, querer implementar novas tecnologias sem nenhum critério, sem estratégia e deslocadas de sua missão, visão e valores. Da mesma maneira, não basta querer apenas parecer inovador.


Lembre-se, estamos falando de um mercado culturalmente conservador, regulado e burocrático. Isso não é uma crítica, mas sim uma constatação e é justificável que assim seja, afinal, estamos falando de saúde, de vidas. O ponto é que não se muda uma cultura de forma rápida e, quando falamos em empresas genuinamente inovadoras, falamos de empresas que têm isso em seu DNA, na sua cultura.


Contudo, culturas empresariais podem se modernizar e a inovação pode ser tornar sim um aspecto cultural de todas as empresas, para isso, o primeiro passo precisa ser dado.


Uma prova que, mesmo em um mercado com muitos paradigmas, é possível fomentar a inovação, é o Hospital Israelita Albert Einstein que criou uma incubadora de startups, a https://eretz.bio/.


A inovação deve trabalhar a favor da estratégia e é preciso ter estratégia para inovar


O primeiro ponto que precisa ser entendido é que a inovação precisa trabalhar a favor da estratégia empresarial e, acima de tudo, estar atrelada à sua missão, visão, valores e a seu propósito de existir.


As organizações devem se perguntar o que querem ao inovar:

  • Melhorar o atendimento aos pacientes?

  • Oferecer mais segurança?

  • Melhorar a jornada do paciente?

  • Trazer mais praticidade aos pacientes e corpo clínico?

  • Ganhar vantagem competitiva?

  • Aumentar lucro, gerar mais receita?

  • Ampliar mercado?

  • Atrair e reter talentos?

  • Entregar valor percebido aos clientes?

  • Traduzir esse valor em resultados para a instituição?

Nem sempre será possível criar inovações disruptivas. Na verdade, a grande maioria das vezes as inovações serão incrementais, ou seja, melhorias em processos já existentes, uma nova forma de fazer o que já existe.


Como considerar a solução se ainda não sabemos qual é o problema?


Estando claro que as inovações devem estar atreladas aos propósitos e estratégias da instituição e sabendo o porquê inovar, é hora de olhar para dentro de casa e ver quais são os reais problemas, as dificuldades e as dores que precisam ser tratadas, sejam de colaboradores, pacientes, médicos, familiares, sejam de cunho estrutural, financeiro, comunicacional, etc.


É recomendável que esse exercício seja feito por um grupo multidisciplinar, isso proporcionará diferentes pontos de vista. É interessante que esse grupo atue de forma horizontalizada, ou seja, tenham liberdade para expressarem suas opiniões de forma igualitária. (Isso se chama co-criação e é um terreno fértil para que inovações aconteçam. Perceba que se a empresa está fazendo isso, um importante passo foi dado para se construir uma cultura de inovação).


Um excelente framework para ser utilizado nesse momento é a metodologia do Design Thinking (a propósito, esse é um excelente tema para um próximo artigo).


O que precisa ficar claro nessa etapa é que, antes de buscar novas tecnologias (existem centenas no mercado) ou soluções, é preciso verificar quais os reais problemas que precisam ser solucionados, para então, ir ao mercado para buscar a melhor solução.


Definir prioridades é fundamental


É comum haver ansiedade, mas é hora de lembrar da estratégia, dos reais problemas a serem resolvidos e dos objetivos que se pretendem alcançar. É preciso ter clareza, definição de prioridades e esforços para fazer as escolhas certas. Afinal, é bem provável que os recursos financeiros, pessoais e de tempo sejam limitados.


Caso haja dificuldade de decidir por onde começar, podemos aplicar uma metodologia muito utilizada pelo pessoal de Growth Hacking, o método I.C.E.


  • I - Impact: qual será o impacto da inovação em nossa instituição;

  • C - Confidence: qual a probabilidade de dar certo;

  • E - Ease: qual a complexidade para implementar.


Esse exercício, mais uma vez, deve ser feito por um grupo multidisciplinar, o que trará diferentes pontos de vista e uma diversidade muito benéfica.


Tenha sempre em mente que inovação não é somente tecnologia. É possível inovar em modelos de negócios, novos produtos, processos, entre outros. A tecnologia deve ser o meio e não o fim.


O que não se pode medir, não se pode melhorar



Está claro que inovar demanda esforços, investimentos de tempo e dinheiro, por isso é fundamental que isso tudo gere resultados. Portanto, na fase inicial de cada processo de inovação, é importante definir KPIs que depois possam ser analisados.


Por mais que haja muito estudo e planejamento, é possível que as inovações não tragam o resultado esperado, não sejam compreendidas pelo cliente, demande mais esforço do que imaginado, enfim, podem ocorrer imprevistos.


Falhas poderão ocorrer, mas elas precisam gerar aprendizado e melhorias.

Fail fast, learn fast, scale fast!


Nesse sentido, uma recomendação é realizar projetos pilotos, que possibilitarão testes com menor investimento, ajustes rápidos, protótipos, testes A/B, MVP (Produto Mínimo Viável), etc. Então, após as correções (se preciso for), será o momento de implementar a inovação de forma integral.


É muito válido fazer benchmarking, inclusive em empresas de outros segmentos. Muitas vezes é possível importar soluções de outros mercados, fazendo apenas adaptações. Mas não existem receitas prontas, é preciso construir o próprio caminho.


Algumas dicas importantes:

  1. A inovação deve se iniciar por meio das lideranças;

  2. Times com experiências e conhecimentos diferentes;

  3. Procure exemplos de outros mercados, mas construa seu próprio caminho;

  4. Crie uma cultura de inovação (não será de um dia para o outro);

  5. Celebre falhas (aprendizado), recompense resultados;

  6. Reconheça e incentive os intraempreendedores;

  7. Estimule o ambiente criativo;

  8. Desenvolva uma estrutura organizacional plana;

  9. Aproprie-se dos problemas dos clientes, dê atenção e valorize as ideias internas e olhe para o mercado;

  10. Prototipe, teste, faça pilotos. Crie um sistema de inovação minimamente viável;

  11. Crie uma estratégia para inovar!

O futuro chegou

Ainda há um longo caminho pela frente, mas ele precisa ser percorrido em alta velocidade. Os desafios são inúmeros, mas com foco, estratégia, planejamento e mudança de mindset será totalmente factível e viável.


O mais importante é saber que no fim, todas essas inovações trarão mais qualidade, segurança, praticidade e agilidade para os pacientes, razão de existir de todas as empresas de saúde.


Por Rafael Martins - consultor da B2E Saúde e especialista em marketing médico e hospitalar | Professor de MBA – MKT e Mercado em Serviços de Saúde.


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